Parque abre espaço para debates e vivências na Primavera dos Museus
O Parque da Ciência Butantan participou nos dias 19, 21 e 23 de setembro da 17ª Primavera dos Museus, que neste ano teve o tema “Memórias e democracia: pessoas LGBT+, indígenas e quilombolas”. O evento foi promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e teve o objetivo de sensibilizar diferentes museus brasileiros em torno de questões que, historicamente, têm sido invisibilizadas, marginalizadas ou abordadas de maneira pontual. Como parte do evento nacional, os museus do parque desenvolveram programações voltadas aos povos indígenas e às pessoas LGBTQIAPN+.
No dia 21, no período da manhã, o Butantan recebeu a presença da primeira indígena a ser vacinada contra Covid-19, Vanuza Kaimbé, a convite do Museu da Vacina. Durante sua fala, Vanuza, que também é técnica em enfermagem e assistente social, ressaltou a importância do Programa Nacional de Imunização (PNI) e do Sistema Único de Saúde (SUS) por permitir que povos indígenas residentes em aldeias distantes tivessem acesso à vacinação, além de exaltar o protagonismo do Instituto Butantan durante a pandemia. Ela também enfatizou a valorização permanente da contribuição dos povos indígenas em nossa sociedade. “Só defendemos aquilo que conhecemos”, disse Vanuza.
Na tarde do mesmo dia, o Parque da Ciência recebeu as pessoas atendidas pela Casa de Assistência à Saúde Indígena (CASAI). A visita foi idealizada pelo Museu de Saúde Pública Emilio Ribas (MUSPER) e desenvolvida conjuntamente com os demais museus e o Centro de Memória do Butantan. Antes da visita, os educadores realizaram um bate-papo com os indígenas da CASAI e a assistente social para conhecê-los e entender os lugares de interesse e suas expectativas.
Os visitantes conheceram o Macacário e o Museu Biológico, onde observaram atentamente os animais, após uma apresentação. Eles demonstraram curiosidade e alguns deles até identificaram serpentes que habitam as regiões onde vivem, como Amazonas e Mato Grosso. Também tiveram a oportunidade de tocar em uma jiboia, se sentindo seguros para a vivência após as instruções da educadora.
O Museu de Microbiologia Professor Isaias Raw também foi um ponto de visitação. Os indígenas puderam observar as lâminas dos microscópios e fazer perguntas sobre as maquetes de vírus e de células. O último local visitado foi o Serpentário, onde fizeram fotografias ao mesmo tempo em que procuravam as serpentes mais escondidas.
A intenção da atividade foi promover aos visitantes da CASAI um momento de lazer, conversa, observação da paisagem, bem como do espaço dos museus. Os educadores voltarão ao CASAI para dar continuidade a esse trabalho, compreendendo o significado da visitação e da vivência do grupo no Parque da Ciência.
Esse foi um pequeno passo, mas com um significado enorme para que a equipe dos museus pudesse dar continuidade ao projeto. É necessário proporcionar protagonismos, espaços de vivência e de troca de saberes com os diferentes povos indígenas, respeitando suas culturas, seus conhecimentos e refletindo cada vez mais sobre a relevância de sua história, a importância da sua voz e de sua permanente contribuição para a sociedade, meio ambiente e cultura.
Homenagem ao SUS
Ainda durante as atividades do evento, os museus do parque e o Centro de Memória produziram um fanzine, que é um material educativo alternativo em formato impresso. A publicação foi distribuída aos visitantes nos espaços expositivos do parque ao longo da Primavera dos Museus para comemorar o aniversário da criação do SUS, enaltecendo sua história e apresentando seus esforços em relação à saúde LGBTQIAPN+ (Política Nacional de Saúde Integral LGBT), Indígena (Subsistema de Atenção à Saúde Indígena – SasiSUS) e quilombola.
Democratização da saúde
No dia 23, o MUSPER sediou um bate-papo com diferentes profissionais para traçar um paralelo histórico entre práticas de saúde pública e a salvaguarda de memórias LGBTQIAPN+. O objetivo foi entender os desafios para abordar a temática da saúde de forma plural, com a superação da estigmatização que acompanhou os critérios de preservação desses acervos até então e em paralelo ao fomento de outras práticas que visam a democratização e abordagem diversa desses processos arquivísticos e museológicos.
Ao aprofundar análises e partilhar experiências de trajetória histórica e o protagonismo de diversas pessoas, além de ressaltar movimentos sociais na formação das atuais políticas de saúde, a mesa possibilitou a participação do público presente de forma intensa.
Foram cerca de 20 pessoas presentes, sendo a maioria de público espontâneo externo ao Butantan. O evento teve devolutivas positivas em relação à temática, convidados e formas de abordagem. Também foram recebidos relatos importantes sobre suas histórias de vida, trajetórias de familiares e anseios de mudança por uma sociedade que seja capaz de reconhecer e valorizar cada vez mais a diversidade em diferentes instâncias, assim como nas políticas públicas de saúde e culturais.
O encontro contou com a participação dos seguintes convidados:
Renato Barboza, pesquisador científico do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que falou sobre suas contribuições para a história da saúde pública no estado, dos programas estaduais contra DST/AIDS, que são reconhecidos nacional e internacionalmente pela inovação da resposta e sucesso no controle das IST/HIV/AIDS, e do combate à discriminação das pessoas com HIV;
Leonardo Vieira, do Museu de Diversidade Sexual, que falou como um museu pode abordar a temática da saúde em seus acervos em perspectivas de formação de rede e trabalho colaborativo;
Natan Anjos, do Acervo Bajubá, que tratou das potencialidades educativas para a formação de acervos;
Denny Tavares, profissional de Educação Física, que abordou o papel da universidade em processos de transição de gênero e do esporte como linguagem de acessibilidade para integração e promoção da saúde ampla;
Misândrica, drag queen e educadora do MUSPER, que mediou o bate-papo e destacou a importância das práticas artísticas, os modos de fazer enquanto patrimônios imateriais da comunidade LGBTQIAPN+ e a inserção de narrativas heterogêneas e inclusivas nas instituições de memória.
*Este material é uma iniciativa do Museu de Saúde Pública Emílio Ribas (MUSPER). Texto escrito pela diretora do MUSPER, Maisa Della Casa, e pelo educador do MUSPER Leonardo La Torre